terça-feira, 31 de maio de 2011

Viagem ao Sul da Índia

              Como descrever essa viagem? Somente com o coração.
            Depois de uma semana tumultuada, com muito trabalho e, vários imprevistos familiares, lá estava eu no aeroporto de Cumbica rumo à Índia. Para visitar o Ganges ou o Taj Mahal? Não, não mesmo, o nosso destino era o sul da Índia, um local importante de peregrinação para os Indianos e não muito comum para os estrangeiros. Saber exatamente o que eu estava fazendo ali, não isso eu não tinha certeza, simplesmente era uma viagem que eu jamais imaginava fazer naquele momento da minha vida, mas que havia me caído nas mãos como uma luva e lá estava eu. Estudante de Yoga ha alguns anos tudo me interessava, mas saber exatamente o que poderia me acontecer, a isso já era demais para essa grande oportunidade.
            O grupo tinha um total de dezenove pessoas, eu só conhecia o professor de Yoga que tinha organizado o roteiro da viagem e nos daria o curso durante a viagem, nisso eu me sentia segura, pois sabia da seriedade do seu trabalho, de resto, não tinha tido tempo nem ao menos de verificar o roteiro.
            Depois de quinze horas dentro do avião para Dubai, lá estávamos nós rumo ao nosso destino final e, depois de mais dois vôos chegamos a Chennai a nossa primeira cidade a ser visitada.
            Tínhamos feito reuniões antes da viagem, no qual tanto a agência quanto os responsáveis pelo grupo tinham explicado as diferenças culturais, religiosas e enfim de todos os tipos. Mas é quase que simplesmente impossível não se chocar. De início me senti um ET aterrissando em outro planeta, com pessoas interessantíssimas, mas que eu precisava olhar e olhar e escutar para acreditar que estava ali. Se eu fosse explicar todas as impressões que tive, este texto ficaria muito grande e redundante, porque na Índia tudo é muito grande e redundante, seja a pobreza, o lixo, a humildade, o carinho, o amor, a devoção, a educação, o respeito e principalmente a fé, sem me esquecer do trânsito e do barulho das buzinas.


Que aventura! Pura emoção!



            Então vou seguir direto para o nosso primeiro local visitado, o templo de Ramakrishna (1836-1886), considerado um santo que transmite alegria, leveza e muito amor, juntamente com ele tem a importância de sua esposa, Sarada Devi, que nos transmite a sensação de uma mulher yogue/mãe de todos nós e, acima de tudo um ser devotado a Deus.




            Diferente do que estamos acostumados aqui no Brasil, na Índia a yoga, os deuses hindus, as igrejas católicas, os mulçumanos e mais algumas religiões, se misturam de maneira respeitosa e, todas têm a característica da devoção e do respeito. A arte está presente em cada detalhe religioso e é praticamente impossível dizer sobre um sem falar do outro.
            Tivemos um guia hindu, formado em história e mais um monte de outras coisas, que nos explicava de todas as religiões e crenças com tamanho respeito e admiração, que se tivéssemos mais tempo teríamos aprendido muito mais. Mas vamos seguindo adiante.
            Visitamos templos maravilhosos, que ou são de Shiva, ou de Vishnu e um maravilhoso de Kali no meio de uma região de extrema pobreza. Todos nos causaram assombro, admiração e muitas emoções, pois os indianos são envolventes, em tudo o que fazem e, eu continuava a me perguntar o que eu conseguiria levar dali, para dentro de mim, pois tudo é uma busca interior. E, eu queria compreender, sentir, aprender e poder dizer a mim mesma que tinha voltado ao menos uma pessoa um pouco melhor.



Esses animais são maravilhosos, mas infelizmente sofrem com esse tipo de exibicionismo.


Este foi o templo que achei mais bonito por dentro, a riqueza de detalhes, a beleza, um banho de arte indiana.











Essa cena me comoveu bastante, essa senhora estava tão envolvida na sua devoção, que nada mais importava ao seu redor, somente o ato que a trazia ali.

            Visitamos Auroville, um local onde a universalidade está presente juntamente com a beleza. 

Auroville


Amei essa imagem! Talvez porque para mim a maior representação de Deus é a natureza!

            Subimos a montanha onde Ramana Maharshi encontrou a sua iluminação somente meditando “Quem sou eu”. Neste local tive um momento especial, que foi a lembrança de todos os cursos e pessoas que fizeram parte da minha jornada e que com certeza me ajudaram de alguma forma a estar ali, de coração e apesar da distância, agradeci.


            Visitamos a montanha sagrada de Palani, onde o sábio Boganathar construiu uma imagem com as sete ervas venenosas para se atingir a cura de todos os males. Neste local os indianos sobem a montanha, felizes, com crianças, idosos e todos os tipos de pedidos e curas para o sábio.


            E, por fim, visitamos um guru de Krya yoga que nos mostrou que o mais importante para se começar uma meditação é ter consciência da própria respiração. Também nos ensinou alguns exercícios, mas o mais envolvente eram as suas palavras, a sua maneira cordial e alegre de explicar, a sua satisfação em ver pessoas de um local tão distante, interessadas naquilo que para ele é a essência da vida.




            O grupo foi maravilhosamente bem, as pessoas se tornaram amigas, não tivemos problemas de convivência, conversávamos, tirávamos dúvidas, brincávamos com as diferenças e sempre nos encantávamos com tudo e com todos.
            O meu lugar principal de conversa comigo mesma era o ônibus que nos levava de uma cidade a outra. Ali eu sentava no banco, observava a paisagem, chorava ou tinha vontade de sorrir e, observava todos os meus sentimentos.


             Quanto à pretensão de voltar uma pessoa melhor, isso eu não sei, acho que nos tornamos melhores a cada dia, em qualquer lugar e tudo é um processo contínuo que vai do mais simples ao mais profundo, mas posso dizer com certeza que a Índia entrou em mim, o sorriso das crianças indianas, o carinho no olhar, a devoção, a entrega aos Deuses ou a Deus e, principalmente a devoção a tudo o que se faz. Então eu me pergunto, sou devotada a todas as minhas ações e escolhas? Sou devotada a mim mesma? A quem amo? Ao que considero Deus? O que é ser devota? É sentir? É entregar? É permitir? É talvez encontrar esse ponto interno de presença em tudo o que se é e tudo o que se faz, e o resto é conseqüência. É o resultado, se certo ou errado é o que sabemos fazer, e a mudança também faz parte da vida. Por isso, em resumo a tudo o que escrevi, vou resumir com as palavras que o Prof. Hermógenes responde quando lhe perguntam o que é yoga, é amor a Deus, é o amor, é simplesmente o amor.
            Se vou continuar estudando sobre yoga e espiritualidade, sim, com certeza, mas é com a consciência de despertar em mim o que já sou, somente de lembrar e voltar com amor para o meu lugar sagrado, o eu interior. Essa é a mensagem que mais gostaria de transmitir a todos que estão lendo este relato.


Obs: Este relato foi escrito logo que cheguei, é uma pequeníssima parte dessa viagem, ainda espero compartilhar e escrever mais.  
Obrigada e Namaskar!